domingo, 29 de maio de 2005

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Sem valor, sim, pois despertara compaixão no camponês. Tanta que diante da nacessidade nem sequer lhe ocorrera a idéia de trocá-la por papéis ou comidas, ou por qualquer coisa que lhe fosse de mais valia naquela hora.
Parecia que faltava parte. Todavia se a parte ali estivesse não mais seria ela. Pra onde apontaria? Quem sabe segurava o manto pesado, que outrora o artista fixou. Quem sabe embalava uma cria. A cria foi-se e levou junto o que lhe era de posse: a extensão do seio. Pudera o próprio artista criador fazer uso da falsa autonomia e dar fim numa parte imperfeita. É sabido que o gesto leve duma afrodite jamais tomaria a devida forma na rude pedra.
Disseram que o milico usou de força para arrancá-la do pedestal. Não porque estivesse fixa ali, mas porque o apaixonado camponês juntou seu peso ao dela. Tanto pesava a pedra mais o camponês, pesava também o coração do coitado depois disso. Peso morto: a pedra e o coração. Levaram-lhe o coração. Deixaram uma pedra no lugar.
Ele acenou. Ela não retribuiu.





Das noites insones...

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